Aventura para adquirir equipamentos médicos

-Não me importo mais com uma delas do que me importo contigo. Pensei ter dito que era um membro de uma tripulação cujo capitão vale mais do que cem milhões de berries. Acha que isso se consegue com gentilezas ou poupando vidas? É verdade que meu passatempo não é sair por aí matando inocentes, mas o sangue vai estar em suas mãos, não nas minhas. Agora, eu não digo o mesmo a respeito de outros piratas. Matá-los hoje para não serem uma ameaça amanhã, é como eu sempre digo.

Uma expressão de pura indiferença surgiu no rosto de Redgrave, ao passo que continuava caminhando, sem muita pressa, na direção do atirador. Para falar a verdade, como médico, ele odiava que vidas fossem tiradas, principalmente a de inocentes. Mas como pirata, ele sentia que não tinha obrigação de salvar vidas e nem poderia fazer isso o tempo todo. Se preocupava mais consigo mesmo, no momento, pelo fato de ter ouvido a palavra "kairouseki". Ele poderia ter virado e atacado o espadachin novamente, mas desta vez, com tudo que tinha. Porém, Alice era capaz de resolver isso sozinha, e ficar interferindo na luta dela poderia chateá-la.

-Eu sou um médico. Eu sei exatamente como as pessoas tendem a reagir quando a morte se aproxima. Primeiro, você vai matar um refém como se isso pudesse me parar. E no entanto, depois que perceber que seu amigo manco vai morrer antes de pegar o teu precioso kairouseki, vai começar a tremer, sequer vai conseguir mirar em mim. Vai se desesperar, e será tarde demais para perdão. Aqui se faz, aqui se paga. Será derramado o teu sangue caso derrame o de um desses reféns e eu vou dizer uma última vez que já perderam essa briga.

Tony continuava focado em suas costas, ainda não muito confiante de que havia derrubado completamente o espadachin que havia enfrentado. Mas mesmo assim, sua expressão não permitia brechas, e seu comportamento era impecável. Tentou pressionar o homem de forma que ele entendesse que matar os reféns não faria as coisas ficarem melhores para ele. Muito pelo contrário, Redgrave era um tanto quanto vingativo, e se tinha uma hora pra que seu dilema de pirata médico fosse resolvido, essa hora havia chegado.

-Pense bem, porquê eu posso ser muito pior do que a marinha. E eu até estava pensando em te dar a chance de escapar daqui se não fizesse uma burrada. Aliás, eu teria deixado que todos vocês fossem embora...

Apressou um pouco o passo, para encurtar o tempo que o homem tinha para pensar. A moeda estava lançada. Ele agora havia explicado a situação, não havia nenhum blefe em suas palavras e sua postura permanecia impassível. Era uma questão de poucos segundos para chegar ao local, segundos estes em que se seguia a total tensão. Esperava que tudo desse certo e que Alice derrotasse o espadachim, e que, ao ver que a situação estava totalmente desfavorável, o atirador desistisse de seu propósito e acabasse por se render ou fugir, o que tornaria tudo mais fácil para Tony. Ele havia se interessado pelo kairouseki que o atirador disse que tinham, talvez levasse consigo para o barco. Pedra do mar nunca era de mais.

-Ainda pode decidir o seu destino. Viver para roubar outro barco amanhã, ou morrer por minhas mãos. Eu estava mesmo precisando de uma cobaia viva no navio, caso queira aceitar a proposta. Eu te prometo que vai viver por umas semanas, embora não garanta sua integridade física.

O pirata que ameaçava ter um capitão que já chegava a ter uma posição de Supernova acabava deixando o seu oponente um louco insano. Um, dois, três tiros disparados. De alguns cinco comerciantes, restavam apenas dois. Ele atirava sem dó, causando uma morte imediata ao contato da bala sobre o crânio daquelas pessoas.

Ajoelhava-se ao chão, mantendo um sorriso sobrenatural sobre seu rosto. Parecia brincar com a sua arma, quanto mais o pirata se aproximava. Estava a trocar o cartucho, mas Redgrave não tinha uma clara visão. O diferente é que neste cartucho continha uma bala de kairouseki, mas era apenas uma. As outras se tratavam de um material comum.

A distância entre ele e Red eram de seis metros quando erguia sua pistola em velocidade máxima, e mirava para o peito de Redgrave - atirava logo em seguida. Uma bala feita da famosa pedra do mar se dirigia até ele, e esta não poderia ser redirecionada pelo seu corpo de borracha.

Já Alice conseguia rasgar as costas de seu oponente, que se debatia e acabava caindo ao chão - logo, Alice não tinha tempo de sair de suas costas. Acabou batendo suas costas peludas, e servindo como almofada para seu oponente, que já estaria morrendo aos poucos. Sua roupa ficava com um pouco de sangue. [-10HP]

Iria verificar as caixas, e ver o que encontrava por lá.

Redgrave esperava que as ameaças fossem fazer com que o homem acabasse não matando as vítimas. Era verdade que o jovem estava disposto a abandonar o seu receio em relação a morte alheia, mas a reação que as vítimas tinham, a cada vez que o homem ia disparando fez com que os calmos e curtos passos de Tony se transformasse em uma corrida. Aquele semblante calmo no rosto do rapaz deu lugar a uma fúria imensa, e o foco estava completamente no pirata atirador, que havia impiedosamente tirado três vidas em seu momento de devaneio.

O jovem pirata já havia percorrido uma boa distância mesmo antes de começar a correr, e, durante um breve momento, o atirador parou de atirar, passando a mexer na arma. No entanto, Redgrave foi um pouco mais rápido na preparação para o golpe, no estado de loucura em que se encontrava, a troca de munição não ocorreria na mesma velocidade que seria normal, e mesmo que assim fosse, o movimento do jovem pirata era bem mais simples, era quase como um simples soco, sem preparação nenhuma. Lançou a mão direita dali mesmo e quando o homem estava pronto para atirar, a mão de borracha de Tony alcançava sua arma, mesmo a seis metros de distância, bloqueando a saída da bala.

A intenção do movimento, na verdade, era bloquear a saída da bala, diretamente no cano, e fazer com que o projétil voltasse, danificando a arma de fogo para que não pudesse mais ser utilizada. No entanto, isso não aconteceria. O projétil atravessou sua mão, o mesmo projétil que estaria cravado em seu peito se a raiva não o tivesse consumido e feito com que o mesmo resolvesse agir com mais atitude. No entanto, sua ação de jogar a mão contra a arma, fez com que ela se desviasse um pouco da mira original, e passar por dentro da mão de Tony fez com que a bala tivesse mais alteração na trajetória, assim, a bala apenas passou por sua mão, sem vir a atingí-lo novamente.

A mão do rapaz voltou por puro reflexo, com o susto que o mesmo havia levado ao efetivamente ser atingido por uma bala de kairouseki. A mão havia sido completamente perfurada, no entanto, causando um sangramento um tanto quanto desagradável. Como médico, ele sabia que tinha de tratar isso logo, mas tinha maiores preocupações. Ergueu novamente a cabeça, a calma estava voltando aos poucos, como se sua raiva estivesse escorrendo para fora junto do sangue. Era hora de agir com precisão e acabar com tudo.

Começou a correr, novamente, eram apenas seis metros. Mas não repetia a tolice de antes, corria agora em zigue-zague, dificultando para o atirador. Não sabia se o mesmo tinha mais balas de kairouseki, mas também, não estava disposto a pagar para ver. Em poucos segundos, cobriu a a distância que havia entre eles e golpeou o homem com um direto de esquerda na altura do estômago para tentar derrubá-lo, e posteriormente jogar-se em cima dele para golpeá-lo, de forma impiedosa, com ambas as ambas as mãos, contra o rosto do adversário, tentando esmagá-lo contra o convés do navio

Quando Redgrave voltou a si, estava sobre o atirador, golpeando seu rosto impiedosamente, com as mãos molhadas com sangue. Ele não conseguia, no entanto, perceber o quanto daquilo era seu sangue e o quanto era sangue do homem. Se aquele pirata tivesse cinco vidas, Redgrave teria tirado todas elas com o estrago que fez ao rosto do homem. Surpreso consigo mesmo, o jovem pirata levantou-se rapidamente apenas para se desequilibrar e cair sentado no chão, logo atrás, próximo aos reféns, olhando para as palmas de suas mãos ensanguentadas, incrédulo.

-Este não sou eu, estou irreconhecível. Eu não precisava ir tão longe...

Depois que o choque passou, e a adrenalina baixou, Tony finalmente focou no ferimento que havia em sua mão, e a dor passou a dominá-lo. Reclamou em silêncio, mas continuou sentado por alguns segundos, como se ainda tentasse digerir tudo aquilo que havia acontecido. O modo como o rapaz havia sido criado o deixou longe desse tipo de tragédia, de vidas sendo tiradas à sangue frio. Tudo isso era novidade para o rapaz, algo pelo qual ele pensou que estava preparado para passar. Enganou-se, no entanto. Ele teria de passar por aquilo várias vezes, mas a primeira experiência havia sido complicada. Ele perdeu o controle e colocou sua integridade em risco. E não somente a sua vida esteve em jogo, como a dos reféns que sobreviveram e a de Alice, afinal, só Deus sabe o que teria acontecido se aquela bala tivesse sido cravada em seu coração.

-A bala... A maldita bala de kairouseki.

Finalmente, permitiu-se levantar e levou a mão esquerda à direita, pressionando o ferimento para conter o sangramento momentaneamente. Esforçava-se para não continuar reclamando da dor, mas aquilo seria um sinal de fraqueza, e ele não admitiria isso por muito tempo. O mais frustrante, no entanto, é que aquele ferimento era a prova viva de seu excesso de confiança, um erro que quase lhe custou a vida, se não fosse a sorte que o rapaz teve em tentar conter aquele tiro ao invés de deixar que ele fosse disparado. A vitória não havia sido plena. Redgrave se sentia derrotado.

-O que é que o capitão, a Alice ou a própria Megumi-san me diriam se tivessem me visto daquela forma. Eu sou tão patético. Meus mestres estariam balançando a cabeça em reprovação neste momento. Eu não posso deixar que a ira me domine, não posso me chocar tanto com a morte das pessoas. Eu sou um pirata, e sou um artista marcial. E eu cometi erros demais por um dia de trabalho.

Resmungando consigo mesmo e pressionando o machucado, foi até os reféns e libertou os dois que ainda estavam vivos. Não esperava que fossem admirá-lo ou agradecê-lo, afinal, havia jogado com a vida deles, e sua própria incompetência havia feito com que outros três fossem mortos. Virou-se imediatamente e passou a andar na direção de Alice. Tão logo chegasse até ela, poderia tratar do ferimento em sua mão e ajudá-la a retirar as coisas antes que a marinha cercasse o local.

-Recomendo que saiam daqui antes que eu me arrependa de tê-los soltado. Eu sou um pirata, afinal de contas.

Ele agora tinha dois lembretes em sua mão. O seu próprio sangue, pra lhe mostrar o preço do excesso de confiança e de não levar o combate a sério. E também o de seu adversário, que significa que sob suas costas, estaria para sempre o peso de uma vida que havia tomado de alguém, a primeira de muitas que provavelmente se seguiriam. Duas lições importantes que Tony não poderia esquecer, mesmo que quisesse.