Treino de constituição - Alice M.K.

 Depois de descansar bastante no meu novo quarto, que por sinal já fiz questão de redecorar com algumas coisas que estavam por ali, e de me curar quase que por completo de meus machucados anteriores, decidi que era hora de fazer algo de útil pelo bem da humanidade. Então me levantei um pouco contrariada da minha cama, deuses, como sou preguiçosa... E saí do quarto, levando comigo apenas a roupa do corpo, e minha bolsa lateral de sempre. Caminhei pelos extensos corredores no interior do barco, procurando a saída com o que eu já havia memorizado, e subindo para o convés. Tive que fechar momentaneamente meus olhos, até que os mesmos se acostumassem com a claridade excessiva proporcionada pela luz do sol... Quando minha visão começou a se normalizar, percebi que o local estava vazio, o que fazia com que um estranho silêncio se instalasse por ali. Caminhei preguiçosamente pelo chão de madeira, confortavelmente aquecido pelo sol incessante da tarde, desviando de algumas caixas de madeira, e barris que estavam por ali, ao som das gaivotas, até chegar na extremidade que dava para a praia, o que me revelou uma linda visão. A praia no final da tarde já estava mais fresca, alguns poucos pescadores podiam ser avistados por ali, e o movimento já havia diminuído consideravelmente. É uma boa hora para um passeio. Com este pensamento, pulei sobre o corrimão do barco, e dei um grande salto em direção a areia, aterrizando com sucesso, sem precisar molhar mais do que meus pés.


 Então dei inicio a uma calma caminhada pela areia da praia, sentindo minha mente ser invadida pelos acontecimentos anteriores... Quedas, esmagamentos, empurrões... A vida de pirata não é fácil, mas eu já sabia disso. Só não esperava apanhar tanto, contra dois palhas. Um empurrão, e alguns golpes foram o suficiente para me deixar bem dolorida, não sei se teria aguentado muito mais daquilo. O que me leva a um único ponto, preciso ficar mais forte, mais resistente, preciso melhorar a minha constituição. E como vou conseguir isso? Treinos, claro... Olhei em volta, analisando o ambiente, e percebendo que já havia andado bastante em meio a meus devaneios... A paisagem estava tingida de vermelho, devido ao pôr do sol,e pouquíssimas pessoas se viam por ali agora. Uma boa hora para treinar. Sem pensar muito, me abaixei na tradicional posição "Preparando para começar a correr, como uma pessoa civilizada", e iniciei uma corrida em velocidade média, levando em conta que quero ganhar mais constituição, e não morrer de cansaço. Então corri, corri e depois corri... Correr não é um problema para mim, gosto de correr. Embora deva admitir que a tarefa se faz muito mais árdua, quando é feita na areia. devido ao meu pouco tamanho, meus pés, e pernas afundam de maneira irritante na areia, toda vez que piso, e correr se torna algo cansativo e chato. Mas mesmo assim, não diminuí nem minha velocidade, nem minha determinação. Não gosto de fazer drama barato, se algo precisa ser feito, eu farei. Mantive minha velocidade, e continuei neste ritmo por mais ou menos duas horas, minhas pernas já começavam a doer consideravelmente, mais o meu consolo estava na brisa marítima, e no cair da noite, que haviam refrescado o ambiente de maneira a não me deixar morrer de calor. Assim, decidi parar para um descanso... Me sentei na areia, tirando de minha pequena bolsa uma toalha para secar o rosto, e uma garrafinha de água, para me hidratar. Não iria parar por alí, mas já estava cansada de tanto correr na mesma direção, e já estava bem longe do barco, o que podia ser perigoso, se tivessem que fugir dali ou algo assim... É sempre bom estar por perto. 


 Tão logo quanto completei meu pensamento, me levantei, guardando novamente a toalha e a garrafinha de água na minha bolsa, e me preparando para recomeçar a correr, desta vez na direção contrária, para retornar ao barco, quando algo rouba minha atenção... Eis que vejo a alguns metros de mim, mais especificamente a minha direita, uma grande pedra verde, de bolinhas vermelhas, perfeitamente redonda, e brilhante... Isso daria um bom enfeite. Imagina só, você entra no barco e se depara com algo assim? Eu ia achar no mínimo, algo muuuuito criativo. Hehehe ~ Me aproximei da tal pedra um poco receosa, e tentei levanta-la, reparando que a mesma não é nada leve como eu imaginava... Mas também não é pra menos, isso aqui tem o meu tamanho! É uma pena, eu queria mesmo levar ela para o barco, mas pesada do jeito que é, eu teria que fazer um tremendo esforço... Tremendo esforço? Tremendo esforço!!! 


 Sem antes parar para pensar, arranjei uma corda que estava jogada por ali, e amarrei uma ponta na minha cintura, e outra na grande... E estranha... Principalmente estranha pedra. E saí correndo em direção ao barco, só que não é preciso ser um gênio para saber que assim que a corda esticou, fui puxada para trás com força, caindo de costas na areia. Lindo. Não, lindo mesmo... Pela primeira vez desde que anoiteceu, fui forçada a encarar o céu. Um véu azul escuro, que se estende por todos os lados, salpicado de pequenos diamantes brilhantes, que iluminam aquela praia naturalmente... Como eu disse, lindo. Talvez eu deva desistir desta ideia maluca, ou talvez... Só mudar de táctica. Então me levantei animadamente, desamarrando a tal corda, e buscando uma rede de pesca... Não foi preciso procurar muito para encontrar, visto que haviam muitos pescadores por ali mais cedo. Rolei a pedra para cima da rede, e juntei suas pontas, de forma a envolver a pedra com a rede. Usei a corda de antes para amarrar as pontas, e segurando com minhas duas mãos, puxei a mesma sobre minhas costas. Confesso que quase fui enterrada na areia, mas eu quero levar isso pro barco, certo? 


 Após me estabilizar com o novo peso nas costas, comecei a correr em direção ao barco... Óbvio que esse correr, estava mais para rastejar, mas enfim. Depois de 3 lentas e dolorosas horas "correndo" ,(leia-se "rastejando"), cheguei ao meu destino. E ali, parada em frente ao barco, lembro-me agora que ainda preciso subir uma rampa para leva-la para cima. Minhas pernas doem como nunca, e sinceramente, eu preferia ter levado uma surra, meu coração esta a mil, minhas costas gritam por socorro, e você nem queira saber da minha cara. Logo eu olhei para a pedra, a pedra olhou para mim... E eu decidi que ela ficava linda ali mesmo, jogada em frente ao barco! Tão natural e simpática, dando as boas vindas e brilhando... Me livrei da rede e da corda, e voltei ao barco pela rampa mesmo, eu não vou pular nem que me paguem, e foda-se a pedra rosa com listras azuis. Pedra idiota.

Status:

Nota final: 200/200